Cassandra ficou sem fala. Ele lia-a como ninguém. Aquele homem que mal conhecia tinha a capacidade de a descodificar. Sentia-se nua perante ele, mas não existia receio. Havia uma segurança junto a ele que ela não conseguia explicar.
— Peço desculpa se…
— Não. Xavier não peças desculpa.
— Ficaste…
— Não sei como fiquei. — interrompeu. — Ele magoou-me muito. Foi um momento, uma descoberta súbita e o fim foi rápido. Mas, a dor continua cá. Tenho tentado disfarçar o que sinto. Pensei que estava a conseguir…
— Desculpa, eu…
— Não Xavier! — reclamou. — Não peças desculpa, por favor. Aquilo que disseste… Merda! — interrompeu-se e desviou o rosto para a protecção da escuridão. Uma lágrima atraiçoou-a e escorreu pelo seu rosto. Soluçou.
— Desc… Cassandra, eu não queria que ficasses assim.
— Não estou a chor… Não estou assim por causa do que disseste. Tocaste na ferida, mas… — Os seus olhos húmidos encararam Xavier. — A dor é culpa dele, a ferida é culpa dele. — Forçou um sorriso. — Estou surpresa.
— Surpresa?
— Considero-me suficientemente fria para esconder as emoções. — explicou, limpando as lágrimas do rosto com as costas da mão. — A forma como descreveste… Tocou-me. Consegues ver-me como poucas pessoas o fizeram até hoje. O que é surreal, tendo em conta que antes de ontem nem sabíamos da existência um do outro. — Olhou para o céu escuro estrelado. — Caraças… Nem o Diogo alguma vez me conseguiu ler como tu fizeste agora.
— Pelo pouco que já percebi, acho que esse Diogo falhou em muita coisa.
Cassandra encolheu os ombros e fez um esgar denotando que talvez tivesse sido assim ou talvez não.
— Quando disse que te considerava meu amigo não foi em vão. Sou muito reservada em relação à minha vida. Não contei a ninguém o que aconteceu, apenas disse à minha família que o namoro havia terminado. Não havia como esconder, cheguei a casa dos meus tios lavada em lágrimas. — Fez uma pausa e respirou fundo.